Jornal da Cidade Regional

Preços dos fertilizantes disparam e cafeicultores se preocupam com aumento dos custos de produção

Compartilhe:

Os constantes reajustes nos preços dos fertilizantes ao longo do ano passado e a possibilidade de novos aumentos em 2022 têm deixado muitos produtores rurais preocupados. E ainda tem a guerra da Ucrânia que envolve os principais países fornecedores desses produtos para o Brasil. E é esse conflito o principal responsável pela ameaça de desabastecimento do mercado ao longo do ano.

Uma análise feita pelo coordenador técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG) em Alfenas (MG), Kleso Silva Franco Júnior, mostra que o preço dos fertilizantes já variou entre 150 a 180% entre fevereiro de 2021 e 2022. Segundo ele, “um fertilizante tradicional de café custava em fevereiro de 2021 cerca de R$ 2,4 mil. Já em outubro, o valor chegou a R$ 5,5 mil e agora, em 2022, já temos preços em torno de R$ 6,5 mil”, explicou.

Quem comprou o produto recentemente percebeu que os reajustes continuam. Só que, segundo Kleso, seriam motivados pela nova alta dos combustíveis e dificuldades de importação por causa da guerra.

”O cafeicultor que quiser garantir seu estoque vai pagar mais caro. A única vantagem é que o café só precisa de adubo no início das chuvas, em setembro e outubro. Até lá temos que torcer para ter fertilizantes”, afirmou

E as mudanças de preço fizeram o mercado mudar. É o que afirmou o também engenheiro agrônomo, Elber Caixeta sobre a recente compra de fertilizantes realizada pela fazenda onde trabalha.

“Antes, a gente via o que ia precisar e ia nos parceiros fazendo a cotação da melhor condição de preço, prazo, entrega… Normalmente, ocorria desta forma. Então você tinha um poder de barganha melhor. Você pechinchava de porta em porta para conseguir uma melhor condição. Este ano foi totalmente o contrário disso”, disse.

Elber, que administra a produção de uma lavoura cafeeira que ocupa 221 hectares em Paraguaçu (MG), garante que o planejamento anual de custos já está bem apertado.

“Alguns insumos dobraram de preço como, por exemplo, a ureia. Em 2021 a tonelada do produto era comercializada numa margem de preços que variava entre R$ 2,8 mil e R$ 3 mil. Hoje, o valor gira em torno de R$ 6 mil por tonelada. Uma alta muito significativa”, lamentou.

Pandemia


A pandemia foi a grande vilã dos preços dos combustíveis em 2021 para o professor adjunto de economia da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), João Marcos Caixeta Franco. Segundo ele, foi nesse período, que houve uma forte desvalorização do real frente ao dólar. Isso teria provocado um aumento dos preços dos produtos importados entre 100 a 200%.

“E ainda precisamos lembrar que a pandemia causou diminuição da atividade econômica afetando as cadeias produtivas como um todo. Também houve uma desorganização da logística de distribuição e o encarecimento dos transportes marítimos. E, como o Brasil importa mais de 70% de seus fertilizantes, isto também contribuiu para o encarecimento dos adubos”, afirmou.

João Marcos lembrou ainda que a guerra é que será decisiva para aumentos ainda maiores em 2022.

“A ocorrência da guerra da Ucrânia causou forte elevação dos preços do petróleo e gás natural. Como a produção de adubos nitrogenados é fortemente dependente desses insumos, pode-se concluir que houve elevação também do custo de produção desse tipo de fertilizante”, falou.


O professor também lembrou que a elevação dos preços dos combustíveis contribuem para elevar os custos de produção dos fertilizantes e seu transporte até o produtor rural.

Professor adjunto de economia da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), João Marcos Caixeta Franco. — Foto: Arquivo pessoal
Professor adjunto de economia da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), João Marcos Caixeta Franco. — Foto: Arquivo pessoal

Cenário difícil


O engenheiro agrônomo da Emater, Kleso Júnior, percebeu que o preço da saca de café sofreu um aumento de 120% entre fevereiro de 2021 e fevereiro de 2022. “A saca saiu de R$ 650 chegando a mais de R$ 1,4 mil em fevereiro. Isso aconteceu devido às condições climáticas. Tivemos a seca, a geada do ano passado e a cotação do dólar”, disse.

Kleso fez um comparativo do poder de troca de sacas de café por toneladas de fertilizantes. Ele garantiu que o cenário atual ainda é satisfatório ao cafeicultor desde que cinco sacas possam ser usadas para adquirir uma tonelada de fertilizantes.

“No ano passado era possível dar entre 3,1 e 6,95 sacas de café por uma tonelada de fertilizante. Ao longo do ano, se o poder de troca chegar a sete sacas e não tiver fertilizante para comprar, aí sim, será muito difícil”, alertou.

Para situações como essas, Kleso recomenda que os pequenos produtores façam uma análise de solo para ter informações precisas sobre os ajustes e complementações necessárias. “Este ano será muito técnico. Vai precisar de uma análise de solo bem-feita para ver o que tem e o que pode ser utilizado da reserva de solo para conseguirmos objetivar uma produção”, observou.

Uma alternativa para esse cenário difícil seria encontrar substitutos mais “econômicos” para os fertilizantes. E o agrônomo Kleso defende o uso de formas alternativas de adubação como os fertilizantes orgânicos, compostos, e o uso de vegetação para cobertura de solo como, por exemplo, algumas plantas da família das leguminosas. O uso desses vegetais auxiliaria na fixação biológica do nitrogênio.

Dever de casa


Se a dica em tempo de crise de fertilizantes é fazer análise de solo, em Conceição da Aparecida (MG), o cafeicultor Fábio Jonas de Carvalho adota essa prática desde que assumiu a responsabilidade de cuidar dos 3 mil pés de café da família no bairro Santa Bárbara. “Fazemos as análises de solo todo ano e as foliares todos os meses. Vejo isso como um investimento porque uma lavoura bem conduzida responde na produção”, afirmou.

Assim como Fábio, todos os produtores rurais necessitam repor nutrientes no solo. O agrônomo Kleso explicou que essa necessidade é comum a todas as culturas agrícolas.

“Os solos brasileiros necessitam de ajustes para equilibrar ou repor nutrientes para que, assim, possam alcançar alta produtividade. E a cafeicultura do Sul de Minas é altamente técnica e necessita de complementações também”, concluiu.

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *