Jornal da Cidade Regional

APAC em Arcos realiza Conferência em comemoração aos seus 20 anos

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Na noite da última terça-feira (28) foi realizada a conferência “APAC e Comunidade – Matar o Criminoso e Salvar o Homem”, em comemoração aos 20 anos da APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) em Arcos.

Ontem, na abertura da conferência, foi falado um pouco sobre a história da instituição, sobre a metodologia de trabalho e sobre a importância da APAC na execução penal.

O evento contou com a presença das seguintes autoridades: Nelson Francisco de Assis Filho, presidente da diretoria executiva da APAC/Arcos; Clícia Alves Ribeiro do Vale, vice-presidente da diretoria executiva da APAC/Arcos; Ari de Jesus Soares Pereira, diretor executivo de Gestão e Controle da FBAC; prefeito Claudenir José de Melo; e Dr. Tiago Ferreira Barbosa; Juiz de Direito da Vara de Execuções da Comarca de Arcos. Também estavam presentes os ex-presidentes da instituição, alguns vereadores, os recuperandos e seus familiares.

“Para nós é uma alegria muito grande porque foram muitos os desafios, são muitos problemas, muitas lutas, inclusive trabalhando contra o preconceito da própria comunidade em aceitar a proposta” – Clícia Alves

A primeira a se pronunciar no evento foi a vice-presidente da APAC/Arcos, Clícia Alves Ribeiro do Vale, que agradeceu a presença de todos e contou um pouco sobre a história da instituição no município e sobre sua importância na comunidade.

Clícia atua como voluntária na instituição há 20 anos e ao Portal Arcos ela falou um pouco sobre como ela iniciou os trabalhos na APAC. “No primeiro momento foi uma questão até pessoal. Eu fui levar uma carta no presidio e uma pessoa me gritou, e eu levei um susto pois era um amigo meu de infância e ele me abraçou e chorou e falou da situação que ele estava vivendo. Aí chegou o diretor na APAC e perguntou quem eu era e ele disse que eu era como uma irmã para ele. Eu me senti muito mal, porque eu sabia que ele estava preso e nunca tinha feito nada. Então, a partir daquele momento, eu resolvi fazer alguma coisa”.

“Eu procurei a diretora e perguntei o que eu podia fazer e comecei a fazer um trabalho de valorização humana, com palestras, dinâmicas, porque dentro da metodologia APAC isso é muito importante: levar novos valores para eles, para que possam sair como pessoas diferentes”.

Perguntamos para ela, como é poder comemorar esses 20 anos da APAC em Arcos.

“Para nós é uma alegria muito grande porque foram muitos os desafios, são muitos problemas, muitas lutas, inclusive trabalhando contra o preconceito da própria comunidade em aceitar a proposta, porque para muita gente bandido bom é bandido morto, não é bandido recuperado. Então a nossa luta aqui hoje é de tentar mostrar para a comunidade o que é a nossa proposta, qual é a realidade, quais são os frutos, porque é muito interessante os dados da APAC. A questão da reincidência no Brasil de crimes é de 80 a 85% e nas APACs esse índice cai de 15 a 12%, então é uma coisa muito eficaz que precisa realmente da ajuda da comunidade e o empenho das políticas públicas do governo, pois ela precisa se tornar uma política pública”, comentou.
 

“A aos recuperandos, saibam que a APAC só existe por causa de vocês que um dia pediram para mudar a sua história, que um dia disseram sim para a APAC e abraçaram essa causa” – Nelson de Assis

Logo em seguida a palavra foi passada ao presidente da diretoria da APAC, Nelson de Assis. Ele falou um pouco sobre a metodologia de trabalho da instituição e sobre o grande trabalho que vem desenvolvendo com os recuperandos. Ele também fez importantes agradecimentos a várias pessoas que têm contribuído com a instituição.

“Quanto Alegria de estar aqui nesta noite, celebrando esses 20 anos da APAC junto a todos vocês que estão aqui. Celebrando o aniversário desta instituição com um evento tão lindo, que emoção. Minha gratidão a todos que contribuíram para a realização desse evento, por meio de doações, divulgação e colaboração”.

“Agradeço a minha vice-presidente Clícia, que em nenhum momento me desamparou nessa jornada, sempre nos ajudando nas horas mais difíceis. Agradeço ao Donizetti Bernardes por toda a dedicação e empenho para realizar essa apresentação e mostrar que há possibilidade de mudança no ser humano. É um gesto de voluntariado e simplicidade. Nossa eterna gratidão ao promotor Dr. Rafael, por nos acompanhar, pois a APAC só acontece com o apoio do Ministério Público. E o nosso muito obrigado ao Juiz de Direito Dr. Tiago, porque a nossa instituição só está de pé porque o judiciário vê a APAC como uma grande parceira”.

Ele também fez um agradecimento especial a todos os recuperandos: “E aos recuperandos, saibam que a APAC só existe por causa de vocês que um dia pediram para mudar a sua história, que um dia disseram sim para a APAC e abraçaram essa causa tão importante. Eu acredito em vocês, cada funcionário, familiar e voluntário acredita em vocês. Vocês estão abrindo as portas para que outras pessoas também possam viver essa experiência que irá transformar a vida de cada uma delas”, finalizou.
 

“A APAC vem como uma alternativa dentro desse sistema. Quando você entra lá na APAC tem uma frase: ‘aqui entre o homem, o delito fica lá fora’” – Dr. Tiago Ferreira

O Juiz de Direito da Vara de Execuções da Comarca de Arcos, Dr. Tiago Ferreira, estava presente e ele foi convidado para falar sobre a importância da APAC na execução penal.

Dr. Tiago iniciou falando da importância do trabalho da instituição no Brasil, tendo em vista que vivemos em um país violento.

“Precisamos de estabelecimentos como este, porque o Brasil é um país violento e os números falam isso. Arcos é uma cidade muito ordeira, pois já passei por várias comarcas, então eu posso afirmar isso. Mas, mesmo assim, as pessoas não se sentem tranquilas em sair na rua sozinhas em um certo horário da noite, pois, o nosso país deixa essa sensação de insegurança”.
Segundo ele, é neste momento que inicia o trabalho da APAC, pois ela consegue reduzir essa violência ao fazer a ressocialização do recuperando com a comunidade.

“Quando um criminoso recebe uma pena ela tem duas finalidades, a de punição – quando é definido o tempo de prisão – e a segunda é a ressocialização, que é quando nós não nos contentamos só com a punição, mas queremos que você sai do sistema melhor e que não cometa crimes de novo, e é aí que entra a APAC. A APAC vem como uma alternativa dentro desse sistema. Quando você entra lá na APAC tem uma frase: ‘aqui entre o homem, o delito fica lá fora’. No presidio eles focam no crime da pessoa e na APAC focam na pessoa, na ressocialização, na mudança de vida. Você consegue dar um tratamento humanizado, consegue valorizar e escutar a pessoa”.

Ele ressaltou que a APAC não vem para substituir o sistema prisional, e sim vem para somar e ajudar no trabalho do judiciário.  

“Não é fácil ficar na APAC, porque no presídio as pessoas comem, deitam e dormem. Já na APAC é bem diferente, tem muitas obrigações, como a de levantar cedo todos os dias para estudar e trabalhar. Então eu concluo que a APAC surge como uma boa alternativa. Os desafios são enormes e ela não vem para substituir o sistema prisional, mas, ela vem pra desempenhar uma função muito importante junto ao judiciário e a comunidade”.

“É bonito a gente vê a presença de tantas autoridades e de tantas pessoas na comemoração desses 20 anos da APAC em arcos” – Ari de Jesus Soares Pereira

O diretor executivo de Gestão e Controle da FBAC (Fraternidade brasileira de assistência aos Condenados), Ari de Jesus Soares Pereira também se pronunciou. Ele agradeceu a presença de todos e falou sobre a alegria em celebrar esses 20 anos.

“É bonito a gente vê a presença de tantas autoridades e de tantas pessoas na comemoração desses 20 anos da APAC em arcos. O método da APAC tem despertado o interesse das pessoas desde 1972, começou com um grupo muito pequeno de pessoas e esse grupo foi se avolumando, a medida que o método foi demonstrando que era algo diferente para a recuperação de pessoas”.

“É muito bom poder chegar a 20 anos e celebrar esse aniversário, que tem que ser celebrado. E é muito bonito estarmos aqui com a presença de tantas pessoas que escreveram essa história, porque, sem dúvida, grande é o mérito de quem está hoje a frente da instituição colhendo seus frutos e sonhando com o futuro e constituindo o presente, mas, muito maior é o mérito de quem lá no passado sonhou com isso, quando ainda o movimento da APAC era iniciante, foi necessária muita esperança. Então agradeço a todos que estão ajudando e contribuindo com a instituição agora e a todos que um dia também contribuirão”.

“A criação da APAC em Arcos foi uma importante decisão que permitiu esses vários avanços e frutos que hoje nós estamos colhendo” – prefeito Claudenir José de Melo.

Ao final foi passada a palavra ao Prefeito de Arcos, Claudenir José de Melo (Baiano), que parabenizou o belo trabalho que a instituição vem desenvolvendo no município e também colocou o governo a disposição de ajudar no que for preciso.

“A criação da APAC em Arcos foi uma importante decisão, que permitiu esses vários avanços e frutos que hoje nós estamos colhendo. Aqui, hoje, temos uma representatividade de toda a nossa comunidade. Parabenizo ao Nelson e a Clícia e digo a vocês que o município é parceiro da APAC, e aquilo que a instituição precisar, dentro do dever que o município possa colaborar, nós fazemos questão de colaborar”.  

Ao final do evento os recuperandos fizeram uma apresentação especial de teatro, que foi produzida e dirigida por Donizetti Bernardes, que também é voluntário na instituição. E também foi servido um coffee break para todos que estavam presentes.

APAC

A APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados), entidade que quando foi criada em 1972 era intitulada como “Amando o Próximo, Amarás a Cristo”, tem a finalidade ajudar o condenado a se recuperar e se reintegrar no convívio social.

A APAC é uma entidade civil de direito privado, dedicada à recuperação e à reintegração social dos condenados a penas privativas de liberdade. Ela ainda opera como entidade auxiliar do poder Judiciário e Executivo, respectivamente, na execução penal e na administração do cumprimento das penas privativas de liberdade. 

Ela é composta de 12 elementos: 1. Participação da Comunidade; 2. Recuperando ajudando Recuperando; 3. Trabalho; 4. Espiritualidade; 5. Assistência jurídica; 6. Assistência à saúde; 7. Valorização Humana; 8. Família; 9. O Voluntário e o curso para sua formação; 10. Centro de Reintegração Social – CRS; 11. Mérito; 12. Jornada de Libertação com Cristo;

Mais de 6 mil recuperandos em todo o Brasil

O objetivo da instituição é promover a humanização das prisões, sem perder de vista a finalidade punitiva da pena. Seu propósito é evitar a reincidência no crime e oferecer alternativas para o condenado se recuperar.

Atualmente o Brasil conta com o total de 63 APACs em funcionamento e 79 em processo de implantação. Entre as 63 já implantadas, 10 são femininas, uma é juvenil e 52 são masculinas.

São mais de 6 mil (6.419) recuperandos em todo o Brasil, sendo 667 mulheres e 5.752 homens. Mais de 2.000 recuperandos estudando, sendo que 250 fazem curso superior e mais de 6.000 trabalhando.

E o estado que mais se destaca no Brasil, devido ao número de APACs implantadas, é Minas Gerais que tem 46 APACs entra as 63 de todo país.

Via: Portal Arcos.

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