A maior parte dos eleitores de Minas Gerais defende que a legislação atual sobre o aborto, que autoriza o procedimento apenas em casos de estupro, risco à mulher ou anencefalia, deve ser mantida como está. É o que mostram os dados da pesquisa DATATEMPO, que indicam que há mais mineiros favoráveis à proibição total da interrupção da gravidez do que defendendo que se ampliem as possibilidades legais para o procedimento. O levantamento também indica as percepções do eleitorado dos candidatos acerca do tema que pode influenciar nos resultados de outubro.
De acordo com os dados, são 47,3% os mineiros que defendem a legislação atual. Outros 17,9% entendem que o aborto “deve ser um direito da mulher em quaisquer circunstâncias”. Por outro lado, 30% dos mineiros acreditam que o procedimento deve ser proibido em todos os casos. O percentual dos que não souberam ou não responderam é de 4,7%.
O DATATEMPO também mediu como está a opinião dos eleitores sobre o tema entre os grupos que apoiam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). O resultado indica que falas recentes de Lula indicando apoio a uma flexibilização desse debate sobre o aborto podem ser complicadores para sua campanha. Mesmo entre seus eleitores, só 23,4% defendem que a mulher deve ter direito ao procedimento em quaisquer circunstâncias. Por outro lado, 26,4% dos lulistas defendem que a interrupção da gravidez deve ser barrada em todos os casos, sem exceções. A maioria porém, 46,1%, acha que a legislação atual, que excepciona o direito ao aborto nos casos de estupro, anencefalia ou risco de vida à mãe, deve ser mantida.
Jair Bolsonaro, que sempre enfatiza ser contrário ao aborto em qualquer hipótese, tem, entre seus eleitores, apenas 11% que defendem a flexibilização do direito à interrupção da gravidez. Outros 35,4% acham que a regra deve ser ainda mais restritiva, proibindo o procedimento em todos os casos. A maioria também, 49,7%, acha que a regra atual é a mais indicada.
O grupo que defende uma terceira via na disputa entre os dois pensa parecido. São 50,2% os que acham que a legislação que vigora no Brasil deve ser mantida. Outros 15% defendem a flexibilização do aborto e 30,4% querem uma restrição ainda maior.
Disputa estadual
O DATATEMPO também dividiu eleitores do atual governador de Minas, Romeu Zema (Novo), e do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSB) quanto ao tema aborto. A diferença entre eles não é tão grande como no caso de Lula e Bolsonaro, mas persiste. No caso dos eleitores do governador, 49% defendem a manutenção da regra atual, 14,5% querem que a mulher tenha direito ao aborto em quaisquer circunstâncias e 32,9% acham que a interrupção da gravidez deve ser proibida. No caso de Kalil, são 50,8% os que defendem a legislação em vigor, 24,4% os que sugerem uma regra mais flexível, e 21,8% os que querem maior rigidez na proibição. Eleitores dos demais candidatos têm posição média. São 46,5% os defensores da atual legislação, 21,5% os que querem ampliar os direitos das mulheres e 28,9% os que querem barrar qualquer possibilidade de aborto.
Religiões
A percepção do mineiro sobre a legalização do aborto no país se altera de acordo com a religião do entrevistado, mas não recebe o apoio pleno em nenhuma das denominações. Evangélicos, como esperado, são os mais refratários a uma flexibilização das normas. São apenas 11,5% os que acreditam que o aborto deveria ser legalizado plenamente. Outros 49,6% defendem a regra atual e 34,3% falam em tornar a interrupção da gravidez proibida em qualquer circunstância.
Já entre os católicos, a defesa da legalização total do aborto alcança 16,5%. Os que querem manter a regra atual são 47,5%, e os que defendem a proibição são 34,3%.
Espíritas têm uma posição mais flexível: 27,6% defendem a legalização, 23,7% defendem a proibição e 44,7% advogam pela manutenção da regra atual. Já entre os adeptos de outras religiões, o apoio à flexibilização é maior: 36,1% acham que deve ser um direito da mulher, 30,6% que deve ficar tudo como está e 27,8% que deve haver um endurecimento da regra.
Recorte por gênero
Embora não haja grandes diferenças quanto à percepção de homens e mulheres acerca do aborto, a defesa da legalização do procedimento de interrupção da gravidez é levemente maior entre eles do que entre elas. São 19,7% os homens que se dizem favoráveis a uma flexibilização da regra. Entre elas o índice é de 16,2%. A regra atual é defendida por 48,4% das entrevistadas e 46,2% dos entrevistados. A proibição total recebe o apoio de 30,4% delas e 29,7% deles.
Jovens são favoráveis
O recorte etário da população mostra que, futuramente, a legalização do aborto pode ter mais apoio na sociedade. O maior índice dos que defendem a flexibilização da regra se dá entre os eleitores jovens, aqueles na faixa de 16 a 24 anos, na qual 30,4% defendem a legalização, contra 17,8% que são favoráveis à proibição total. São 47,8% os que acham que a regra atual é a mais adequada.
O endurecimento da lei tem maior adesão entre aqueles com 60 anos ou mais: 37,8%, contra 17,2% que defendem a legalização e 39,5% que apontam a necessidade de manutenção da lei em vigor.
Dados de registro
A pesquisa DATATEMPO foi feita com recursos próprios. Os dados foram coletados de 15 a 20 de julho. Foram realizadas 2.000 entrevistas domiciliares. A margem de erro é de 2,19 pontos percentuais para mais ou para menos. O intervalo de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-08880/2022, e no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) sob o número MG-08733/2022.