Jornal da Cidade Regional

Greve acaba, e testes mostram queda no aprendizado dos alunos em Minas Gerais

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Após mais de um mês de greve, os alunos da rede pública do Estado voltaram ontem para as salas de aula. No mesmo dia, o índice de aprendizagem no ano de 2021, quando eles também ficaram em casa devido à pandemia, foi divulgado. Os resultados do Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb) apontam um regresso no nível de aprendizagem em Minas Gerais. Segundo o governo estadual, a queda foi menor do que a prevista em pesquisas. Já conforme especialista da área ouvida pela reportagem, é cedo para qualquer conclusão acerca do impacto do ensino remoto para o processo de aprendizagem dos estudantes da rede pública.

O Proeb avalia o nível de aprendizagem dos estudantes ao final de cada etapa de ensino. Os alunos do 5º e do 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio das redes públicas são avaliados em testes de português e matemática a cada dois anos. As provas feitas entre novembro e dezembro do ano passado demonstram redução no aprendizado (veja abaixo).

As quedas mais expressivas foram registradas em matemática. No ano passado, os alunos do 5º ano tiveram 11 pontos a menos em comparação com 2019; no mesmo período, os discentes do 3º ano apresentaram queda de 9,8 – não existe uma pontuação máxima para os testes. A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) informou que o Instituto Unibanco e o Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) apontam redução de 20 pontos em matemática e 16 em português para os estudantes que concluíram o ensino médio. 

ANÁLISE. 

Mesmo com a previsão mais alarmista dos institutos, a professora de psicologia da educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Libéria Neves é enfática ao afirmar que “comemoração não combina”. Segundo a especialista, é muito cedo para mensurar ou precisar os reflexos da pandemia no aprendizado. “É uma questão que, de fato, vamos precisar de mais pesquisas para poder verificar o impacto. São necessárias pesquisas consistentes para fazer essa análise”, explicou.

A docente destacou que o Proeb é importante, mas voltou a frisar que é “muito cedo” para tirar conclusões. “Fato é que a pandemia freou o aprendizado dos alunos, mas é preciso que, agora, tenhamos um estudo de análise. A perda é inevitável”, afirmou.

Para Libéria, além de precisar os impactos, é essencial pensar em maneiras de resgatar os conteúdos que não foram aprendidos pelos estudantes durante o período do estudo a distância. “Não tem o que comemorar. Isso não combina com a situação atual”, enfatizou.

Dificuldades para pais e alunos

O estudante Guilherme dos Santos Silva, 15, afirma ter tido dificuldades para aprender o conteúdo por meio do ensino remoto. “As aulas eram pela televisão e, para ser sincero, não ajudavam em nada. Era muito difícil entender e ainda mais complicado tirar as dúvidas. Matemática, história, geografia e ciências foram as matérias mais difíceis”, conta.

Atualmente no 1º ano do ensino médio, Guilherme estava entusiasmado, até a chegada da greve. “Deixei de aprender muita coisa”. Já a assistente de vendas Cristina Paula da Silva, 50, está preocupada com o futuro do filho de 11 anos. “Ele regrediu muito, pois precisa de acompanhamento do professor. Os alunos foram os mais prejudicados, já que perderam as aulas presenciais. O tempo não volta. Por mais que exista reposição, não vai fazer o mesmo efeito”. 

Secretaria não revela cronograma para reposição

Os mais de 30 dias de greve precisam ser repostos para os alunos e, por causa disso, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE-MG) garantiu ontem já ter estabelecido uma estratégia.

“Foi elaborado um cronograma de reposição para os dias paralisados, para cumprir a carga horária anual obrigatória prevista e preservar os direitos dos estudantes”, informou, em nota, à reportagem.

A pasta não esclareceu se utilizará, por exemplo, as férias de julho e ressaltou, sem dar detalhes, que a orientação será encaminhada hoje às unidades de ensino.

Ainda sobre o movimento grevista, a pasta esclareceu que o último balanço, de 13 de abril, apontou que cerca de 82% das escolas da rede pública estadual apresentaram funcionamento normal ou parcial em todo o Estado.

Com o objetivo de impedir a continuidade da greve no Estado, a SEE/MG disse que realizou ao menos três reuniões de conciliação pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

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